Não, este não é um post com sugestões de presentes.

Não precisei virar mãe para resgatar da minha memória a minha infância. Sempre que penso nela, sinto uma coisa muito boa, me brota um sorriso no rosto e uma saudade enorme! Tento refletir bastante sobre o que exatamente me fazia tão feliz, pois adoraria repetir a receita com o meu filho.
Cheguei à conclusão que o que me fazia tão feliz eram coisas muito simples, como a liberdade que meus pais me davam para ser criança, o respeito que eles tinham com a minha imaginação sem fim e as minhas brincadeiras.
Nunca foram xiitas com a minha rotina, deixavam claro o que era obrigação e quais as consequências em não cumprí-las. Mas me davam espaço para ser criança! Por exemplo, acabava de voltar da escola e jantava. Logo em seguida, descia correndo pra brincar, já sabia que meus amigos estavam lá embaixo brincando. Meus pais NUNCA me obrigaram a fazer a lição logo que chegasse da escola, me davam tempo para respirar da rotina e me divertir!
Não eram daqueles que se jogavam na piscina comigo, nem faziam teatrinhos, jogavam jogos, etc. Mas o mais engraçado é que isso nunca me fez falta e hoje, mais do que nunca, entendo as razões.
Nem todo mundo teve tempo ou condições de viver a infância como deveria. Nem todo mundo aprendeu a brincar. Assim como a realidade de muitos brasileiros, eles tiveram que ir à luta muito cedo, amadurecer rápido, ajudar em casa e fora dela enquanto eram crianças. Trabalharam muito a vida toda, e eu nunca julguei que eles fossem ausentes. Nunca achei isso e é fácil entender porque.
Eles podiam não sentar pra brincar de boneca comigo, mas estavam sempre lá para ouvir minhas histórias. Chamavam a minha boneca pelo nome dela, alimentavam minha imaginação, faziam perguntas sobre a “minha filha”. Compravam até talco para eu passar nela! Minha mãe arrumava a minha cama e quando eu chegava, a bonequinha estava no cantinho, ajeitadinha embaixo da minha coberta, com a cabecinha no meu travesseiro. Me levavam à banca para comprar gibis, livros de atividades e lápis de cor. De domingo o café-da-manhã era especial, com paezinhos diferentes e o leite batido geladinho que minha mãe fazia. Sentávamos juntos e comíamos sem pressa. Podia ser tarde da noite, mas meu pai nunca esquecia de trazer figurinhas para o meu álbum. Sempre que minha mãe fazia um pão, me dava um bolinho de massa para eu fazer os meus, e assava em travessa separada, pq ela falava que eram especiais. Saíamos juntos para jantar, conversar e, o melhor de tudo, sem celular!! Ía para a praia e minha mãe ficava hoooooras lá embaixo me olhando andar de patins na rua. Me levavam ao circo, ao cinema, assistiam todas as minhas apresentações no ballet e na escola de música. Me acompanhavam nas festinhas, respeitavam as minhas escolhas e entendiam quando eu dizia que queria aprender outro instrumento ou praticar um esporte diferente do que eles tinham escolhido para mim.
Eu sentia que eles estavam comigo, mesmo quando estava sozinha. Me sentia parte, sabia que se importavam, que prestavam atenção em mim. Não tinha dúvida que me amavam. E é essa pra mim a definição de presença.
É por isso que eu não sei o que recomendar de presente no Dia das Crianças. Porque sem essa coisa toda que eu expliquei aí em cima, a famosa “presença”, qualquer presente que você der, vai ser legal naquele instante, mas garanto que não vai ser inesquecível, tampouco o que vai fazer seu filho se sentir amado. É bem mais simples, mais barato, e não tem dia específico.
Convido você a refletir sobre como você pode estar mais próximo do seu filho e formas de demonstrar o seu amor no dia a dia. Use o Dia das Crianças para começar a criar esses momentos, a construir ou estreitar os laços, para entender o que seu filho gosta, a tentar aprender algo novo com ele, a ouvir o que ele pensa, ou pelo menos abrir o caminho para isso começar a acontecer. Não estou dizendo pra esquecer de dar um presente. Não vou fantasiar aqui e dizer que as crianças não ligam para isso! Só não coloque nele a expectativa de cumprir o seu papel, marcar a sua presença, de transmitir seu amor. Nós pais jamais poderemos ser substituídos, e essa essencialidade é o que nos torna tão especiais!
Beijo grande!
Paty
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